terça-feira, 9 de julho de 2013

Poções: Yulo Oiticica profere palestra sobre violência sexual infanto-juvenil



“a valorização do mundo das coisas aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens” (Karl Marx)

Yulo Oiticica - dep. estadual
A exploração sexual infantil é a transformação das crianças e adolescentes em mercadoria sexual (comprada e vendida tanto ao céu aberto quanto no breu das tocas). Crianças e adolescentes em vulnerabilidade social que é o eufemismo para a miséria, o abandono e a falta de oportunidades. Crianças pobres, crianças pretas ou quase pretas, crianças que seguem pela vida com os corpos marcados e as almas aleijadas. Nenhum discurso jurídico, político, policial ou social pode dar a dimensão desta tragédia humana da exploração sexual infantil no mundo e especialmente no Brasil.

A exploração sexual infantil coisifica a criança, transforma nossas meninas e meninos em mercadoria, e atenta contra a dignidade e a própria humanidade tanto das vítimas quanto de todos nós. Uma sociedade que permite ou se omite num tema como este, esta profundamente doente.

A doença social da qual a violência sexual infantil é um dos sintomas mais terríveis tem raízes nos próprios pilares da sociedade capitalista. Um modo de produção baseada na exploração, na opressão, na desigualdade, na competição desenfreada e na transformação de todas as coisas tangíveis e intangíveis em mercadoria e, portanto na própria mercantilização do ser humano, permite e promove as condições sociais que diuturnamente envia para as ruas, os bordeis e as estradas milhares de crianças para serem consumidas como mercadorias sexuais. É dentro deste quadro de uma sociedade injusta e excludente que temos que visualizar a questão da exploração sexual infantil, ou podemos cair em tentação de combater apenas os sintomas, quando é necessário combater os sintomas e as causas.

A liberdade sexual e de costumes ao invés de permitir a vida plena das pessoas é utilizada de forma corrompida para dar uma espécie de passe livre aos exploradores sexuais no Brasil. Desde as ações individuais proporcionadas pela mentalidade machista que determinam o papel social da mulher como objeto sexual e que tornam “normal” pagar uma menina em troca de favores sexuais, passando pelos sociopatas que assediam e exploram crianças, até as quadrilhas que se especializam em oferecer para turistas e nativos meninas e meninos de 13, 14, 15, 16 anos para a satisfação sexual destes clientes, o certo e que a realidade social de pobreza e abandono amplificam uma realidade perversa que temos no nosso país.


É uma ilusão imaginar que podemos combater a exploração sexual infantil na nossa sociedade sem que este combate seja feito no cotidiano com políticas públicas preventivas e repressivas capazes de chegar ao âmago do problema, desde a miséria, o abandono, a desigualdade e a falta de perspectivas e oportunidades até a impunidade, o arcaísmo da justiça, o descaso da polícia, a falta de vontade política, enfim a omissão do Estado.

Não ter ilusões de que a exploração sexual infantil é parte de uma realidade muito maior e mais ampla não significa que não temos que tratar a questão. Muita coisa tanto por parte do poder público quanto por parte da sociedade pode e deve ser feita.

Por fim gostaria de destacar o papel central da sociedade neste tema. Não existe possibilidade de extirpar este câncer sem que haja uma mudança cultural profunda. Enquanto tolerarmos a violência sexual em qualquer dos seus aspectos estaremos expostos ao caldo de cultura que leva a exploração sexual infantil. Enquanto as vítimas de violência sexual, e estamos falando esmagadoramente de mulheres, forem consideradas culpadas ou pelo menos responsáveis pela violência que sofrem, enquanto a forma de vestir e agir das mulheres for considerada justificativa para o estupro, o assédio e a violência continuaremos alimentando o caldo de cultura que leva a prostituição infantil, a pedofilia e aos estupros e atentados violentos ao pudor contra as crianças e adolescentes. Nossa sociedade não vai extirpar a “cultura” da exploração sexual infantil se não extirparmos a “cultura” da violência sexual sexista.

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