Crescer - Notícias
Enquanto a Lei da Palmada não entra em vigor, veja aqui por que bater
na criança ainda é uma alternativa tão aceita pela sociedade - e como,
apesar de muitos ainda acharem o contrário, ela NÃO funciona
Jussara Mangini
Rumo ao bullying
Mas
a grande pergunta de muitos pais é: dá para educar sem bater? Para o
administrador de empresas Ricardo Vieira Simplício, 38 anos, pai de um
casal, Giulia, 13, e João, 3, sim, pois ele defende que “educar é pegar
na mão” e dialogar. Já bateu uma vez nos dois, apanhou quando pequeno,
mas acredita que na conversa e sob estado emocional equilibrado dos pais
é que eles aprendem de fato. “Abre um horizonte incrível de
possibilidades”, diz Simplício.
Na cidade de São Carlos,
interior de São Paulo, Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams,
coordenadora do Laboratório de Análise e Prevenção da Violência, da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), estuda o assunto e diz que
ao contrário do que muitos adultos pensam, o castigo corporal não torna
as crianças obedientes a curto prazo, não promove a cooperação a longo
prazo ou a internalização de valores morais, nem reduz a agressão ou o
comportamento antissocial. O uso frequente desse método ensina para a
criança que os conflitos e diferenças podem ser resolvidos com o uso da
força e alimentam o ciclo de violência em nossa sociedade. Segundo ela,
pesquisas indicam que os alunos que são autores de bullying na escola,
em sua maioria, vêm de lares onde há utilização de violência física como
forma de disciplina. “Geralmente a família é descrita como hostil e
permissiva, tem poucas habilidades de resolução de conflitos e ensina
suas crianças a revidarem à mínima provocação”, conta. Em um estudo
recente realizado por ela e pela psicóloga Fernanda Pinheiro com 239
alunos de três escolas públicas da cidade, com idades entre 11 e 15
anos, 49% admitiram envolvimento com bullying nos três meses anteriores à
pesquisa, sendo que 26% disseram-se vítimas, 21% alvos e autores, e 3%
apenas autores. De todos eles, somente 15% afirmaram não ter sofrido
qualquer violência dos pais.
Muitas vezes, a violência
física ou psicológica acaba acontecendo num rompante, e não por
metodologia. Nesses momentos os pais podem sentar com seus filhos e
serem sinceros com eles, explicando que perderam o controle e que se
arrependem. Esse tipo de atitude, que é um ótimo exemplo de humildade e
de respeito com o outro, é estimulada pela rede Não Bata, Eduque, criada
para provocar o debate no Brasil. Duas das instituições integrantes
dela são a Fundação Xuxa Meneghel e a Save the Children, da Suécia. Suas
representantes, respectivamente Xuxa Meneghel e a rainha Silvia,
participaram no meio deste ano de um evento na Câmara dos Deputados
sobre a Lei da Palmada, e prometeram se manter atentas ao rumo que a
discussão irá tomar. A Suécia tem experiência: foi o primeiro país a
banir castigos físicos, em 1979. Hoje outras 28 nações – como Dinamarca,
Espanha, Alemanha, Portugal, Uruguai e Venezuela – aprovaram medidas
banindo a prática. “Uma das coisas mais importantes para evitar ou
diminuir os conflitos dentro de casa é conhecer as fases do
desenvolvimento de uma criança, bem como suas características,
limitações e os cuidados necessários em cada uma delas. Sem conhecer
esses limites dados pelo desenvolvimento, os pais tendem a se irritar
com o que a criança faz ou não consegue fazer”, diz Ana Paula Rodrigues,
coordenadora do Programa de Atendimento Integrado da Fundação Xuxa
Meneghel.
Ser pai exige treino contínuo. Mudamos de
ideia, aprendemos e reaprendemos o tempo todo. O mundo está assim: por
trás desses movimentos em que as pessoas se tornam mais conscientes de
seus atos há uma palavra mágica – respeito. Crianças merecem respeito,
amor e afeto, e também têm o direito de crescer com limites. A terapeuta
Luciana Caetano apresenta em seu livro um capítulo chamado “Amor”, em
que ela elenca desejos de “boas escolhas” aos pais. A primeira delas
termina bem esta reportagem: “Que você escolha educar o seu filho todo
dia, em vez de uma vez por todas.”
Por que não ser agressivo com os filhos nunca
• Mesmo obedecendo, a criança que apanha não aprende, apenas deixa de fazer certas coisas por medo de apanhar.
•
O castigo físico ensina que “é batendo que comunicamos coisas
importantes”. Quando têm medo de ser castigadas, as crianças não se
arriscam a tentar coisas novas. Assim, não desenvolvem sua criatividade,
sua inteligência e seus sentidos.
• Apanhar pode gerar na criança o sentimento de que ela é muito má e desobediente e, por isso, merece esse tipo de tratamento.
• A maioria dos autores ou vítimas de bullying vêm de lares onde há utilização de violência física como forma de disciplina.
•
Até um adulto, quando apanha, sente-se humilhado. Ninguém tem motivação
para agradar a pessoa que maltrata. O sentimento é de ressentimento,
medo ou desejo de revidar.
• 38% de crianças e jovens que fogem de casa apontam como causa a tentativa de escapar dos problemas de convivência no lar.
•
Os maus-tratos prejudicam o desenvolvimento porque reduzem o
funcionamento intelectual - afetando a memória, a leitura e as
habilidades intelectuais em geral, o que traz problemas escolares; levam
a condutas inadequadas, antissociais e repetição de modelos agressivos;
geram ansiedade, depressão, distúrbios no sono, enurese noturna e
distúrbios de alimentação.
Fonte: Rede Não Bata, Eduque e Laboratório de Análise e Prevenção da Violência da UFSCar.
Saiba como agir se o que tira você do sério é...
Ataques de birra:
Tentar controlar um escândalo é como tentar dominar uma tempestade. Não
é possível e é uma forma de a criança dizer que está frustrada. Para
evitar os ataques, prefira sair com seu filho quando ele estiver
descansado e alimentado e leve um brinquedo para distraí-lo. Deixe-o
ajudar nas compras e converse sobre o que está comprando – peça para ele
falar o que acha de um determinado produto.
Desobediência:
Há um período em que “não” torna-se a palavra preferida da criança. Mas
ela experimenta os limites (seus e dela). Por isso, é importante a
criança saber por que você considera o que ela acabou de fazer como
errado e como poderia ter feito diferente. Uma alternativa é oferecer
outra atividade, desviando a atenção da criança para algo mais
interessante. Mas se a opção for o castigo, ela deve saber o que fez.
Lembre-se: para quem tem de 3 a 7 anos, o castigo deve durar um minuto
para cada ano de idade. No caso de uma criança em idade escolar, ela
pode ficar um dia inteiro sem um brinquedo, por exemplo. Deixar o filho
sem TV ou videogame não funciona com menores de 3 anos porque eles não
associam o erro ao castigo. Na hora do mau comportamento, critique o
comportamento e não a criança. Diga: “É feio fazer isso que você fez”, e
não “que menina mais feia. Não faça mais isso”.
Brigas:
Pontapés, tapas e socos podem virar uma alternativa para a criança
quando ela não consegue se comunicar bem. Mesmo que bem pequena,
verbalize que você está percebendo que ela está brava e que tem o
direito de sentir-se assim (é muito importante para a criança, e os
adultos também, que validemos seus sentimentos). Faça-o perceber que não
é a raiva dele que você desaprova e sim a maneira como ele a demonstra.
Medos e mudanças de comportamento: Os
pais precisam estar preparados para que uma criança de 6 anos, por
exemplo, se arrependa de dormir na casa de um amigo e sinta saudade de
casa. Muitas vezes, ela não tem os recursos internos para suportar uma
decisão tomada. Também é comum que algumas crianças maiores voltem a se
comportar como bebês, querendo colo, comida na boca, etc. Antes de
repreendê-las procure a causa.
Fonte: Fundação Xuxa Meneghel, Rede Não Bata, Eduque e dicas de especialistas ouvidos na reportagem
mto interessante, vcss estão de parabéns...
ResponderExcluirpena que assuntos como estes, não chamam a atenção dos que realmente
deveriam ver.
continue com o trabalho, é maravilhoso.