13/09/2013
Foto: Valter Campanato/ABr |
É
notória a crise da figura do pai na sociedade contemporânea. Por função
parental, ele é o principal criador do limite para os filhos e filhas.
Seu eclipse provocou um crescimento de violência entre os jovens nas
escolas e na sociedade, que é exatamente a não consideração dos limites.
O
enfraquecimento da figura do pai, desestabilizou a família. Os
divórcios aumentaram de tal forma que surgiu uma verdadeira sociedade de
famílias de divorciados. Não ocorreu apenas o eclipse do pai mas também
a morte social do pai.
A ausência do pai é, por todos os títulos, inaceitável.
Ela desestrutura os filhos/filhas, tira o rumo da vida, debilita a
vontade de assumir um projeto e ganhar autonomamente a própria vida.
Faz-se urgente um re-engendramento, sobre outras bases, da figura do pai. Para isso antes de mais nada é de fundamental importância, fazer a distinção entre os modelos de pai e o princípio antropológico do pai. Esta distinção,
descurada em tantos debates, até científicos, nos ajuda a evitar
mal-entendidos e a resgatar o valor inalienável e permanente da figura
do pai.
A tradição psicanalítica deixou claro que o pai é
responsável pela primeira e necessária ruptura da intimidade
mãe-filho/filha e a introdução do filho/filha num outro continente, o
transpessoal, dos irmãos/irmãs, dos avós, dos parentes e de outros da
sociedade.
Na ordem transpessoal
e social, vige a ordem, a disciplina, o direito, o dever, a autoridade e
os limites que devem valer entre um grupo e outro. Aqui as pessoas
trabalham, se conflituam e realizam projetos de vida Em razão disso, os
filhos/filhas devem mostrar segurança, ter coragem e disposição de fazer
sacrifícios, seja para superar dificuldades, seja para alcançar algum
objetivo.
Ora,
o pai é o arquétipo e a personificação simbólica destas atitudes. É a
ponte para o mundo transpessoal e social. A criança ou o jovem ao entrar
nesse novo mundo, devem poder orientar-se por alguém. Se lhes faltar
essa referência, se sentem inseguros, perdidos e sem capacidade de
iniciativa.
É neste momento que se instaura um processo de fundamental importância para a jovem psiqué com
consequências para toda vida: o reconhecimento da autoridade e a
aceitação do limite que se adquire através da figura do pai.
A
criança vem da experiência da mãe, do aconchego, da satisfação dos seus
desejos, do calor da intimidade onde tudo é seguro, numa espécie de
paraíso original. Agora, tem que aprender algo de novo: que este novo
mundo não prolonga simplesmente a mãe; nele, há conflitos e limites. É o
pai que introduz a criança no reconhecimento desta dimensão. Com sua
vida e exemplo, o pai surge como portador de autoridade, capaz de impor
limites e de estabelecer deveres.
É
singularidade do pai ensinar ao filho/filha o significado destes
limites e o valor da autoridade, sem os quais eles não ingressam na
sociedade sem traumas. Nesta fase, o filho/filha se
destacam da mãe, até não querendo mais lhe obedecer e se aproximam do
pai: pede para ser amado por ele e esperam dele orientações para a vida. É tarefa do pai explicar ajudar a superar a tensão com a mãe e recuperar a harmonia com ela.
Operar esta verdadeira pedagogia é desconfortável. Mas se o pai concreto não a assumir está prejudicando pesadamente seu filho/filha, talvez de forma permanente.
O
que ocorre quando o pai está ausente na família ou há uma família
apenas materna? Os filhos parecem mutilados, pois se mostram inseguros e
se sentem incapazes de definir um projeto de vida. Têm enorme
dificuldade de aceitar o princípio de autoridade e a existência de
limites.
Uma
coisa é este princípio antropológico do pai, uma estrutura permanente,
fundamental no processo de individuação de cada pessoa. Esta função
personalizadora não está condenada a desaparecer. Ela continua e
continuará a ser internalizada pelos filhos e filhas, pela vida afora,
como uma matriz na formação sadia da personalidade. Eles a reclamam.
Outra
coisa são os modelos histórico-sociais que dão corpo ao princípio
antropológico do pai. Eles são sempre cambiantes, diversos nos tempos
históricos e nas diferentes culturas. Eles passam.
Uma coisa, por exemplo, é
a forma do pai patriarcal do mundo rural com fortes traços machistas.
Outra coisa ainda é o pai da cultura urbana e burguesa que se comporta
mais como amigo que como pai e aí se dispensa de impor limites.
Todo
este processo não é linear. É tenso e objetivamente difícil mas
imprescindível. O pai e a mãe devem se coordenar, cada um na sua missão
singular, para agirem corretamente. Devem saber que pode haver avanços e
retrocessos; estes pertencem à condição humana concreta e são normais.
Importa
também reconhecer que, por todas as partes, surgem figuras concretas de
pais que com sucesso enfrentam as crises, vivem com dignidade,
trabalham, cumprem seus deveres, mostram responsabilidade e determinação
e desta forma cumprem a função arquetípica e simbólica para com os
filhos/filhas. É uma função indispensável para que eles amadureçam e
ingressem na vida sem traumas até que se façam eles mesmos pais e mães de si mesmos. É a maturidade.
Fonte: LeonardoBOFF.com
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