Esse é o título de um texto que tem circulado, discretamente, pelo
grandioso mundo virtual da internet. Aborda um daqueles temas incômodos e
constrangedores que a sociedade adoraria ignorar mas que, pela sua
extrema relevância, é obrigada a enfrentar: as crianças abandonadas;
mais especificamente, as portadores do vírus HIV, uma legião de 19,3 mil
meninos e meninas que pouca gente se dispõe a acolher em suas casas.
O caso é tão sério que resultou na criação do Monaci (Movimento Nacional
das Crianças Inadotáveis), um grupo de voluntários que têm se dedicado à
heróica tarefa de fazer as pessoas entenderem que estes pequenos
brasileiros merecem a chance de ter um lar. Acredite, caro leitor: não
há nenhum excesso no adjetivo porque um odioso e velado preconceito atua
contra estes pequenos cidadãos.
Resulta da costumeira desinformação – quando não da pura maldade –
com a qual instrumentalizamos nossos julgamentos sobre as coisas e as
pessoas que não conhecemos direito. No caso, crianças que, a despeito do
fato de serem soropositivos, podem levar suas vidas normalmente.
Pior é que o problema não é exclusivo delas. Outra multidão de
menores amarga uma dura luta contra o tempo à espera de uma família que
nunca vem. Mais precisamente, as 8.598 crianças e adolescentes que já
passaram pelo Cadastro Nacional de Adoção mas que, por conta da
burocracia, legalismo e insensibilidade de parte do Judiciário, ainda
prosseguem na sua busca. Agora, o detalhe mais doloroso desta história
sem final feliz: do número acima, nada menos que 3.784 crianças (44%)
deixaram o CNA porque chegaram à maioridade. Ou seja: foram privados de
uma família na infância por força de uma desastrosa conjuntura
histórica.
Ainda a este propósito, reportagem publicada pelo jornal Gazeta do Povo, do Paraná, denuncia que o CNA ainda está distante do objetivo que inspirou sua origem, em 2008 – maior rapidez no processo de adoção dos menores que vivem nos abrigos. Nestes três anos, o Cadastro Nacional de Adoção funcionou para apenas 425 crianças, quando a nova lei que trata do tema define que o uso de cadastros de adoção é obrigatório.
Ainda a este propósito, reportagem publicada pelo jornal Gazeta do Povo, do Paraná, denuncia que o CNA ainda está distante do objetivo que inspirou sua origem, em 2008 – maior rapidez no processo de adoção dos menores que vivem nos abrigos. Nestes três anos, o Cadastro Nacional de Adoção funcionou para apenas 425 crianças, quando a nova lei que trata do tema define que o uso de cadastros de adoção é obrigatório.
Vergonhosamente, o Paraná é um dos Estados nos quais há maior
resistência à utilização do CNA. O motivo é o equivocado entendimento de
certos juízes de preferir que crianças paranaenses sejam adotadas por
pais paranaenses. Na “cidade-modelo” do Brasil, das quase mil crianças
que vivem em abrigos, apenas 16 integram o CNA. Em parte, isto explica
porque, em Curitiba, as adoções caíram de 160 em 2009 para 123 no ano
passado – números que o Monaci, aliás, questiona.
Os números falam mais alto. E nos convidam a refletir sobre a postura
da sociedade diante dos portadores do vírus HIV, bem como sobre o
compromisso de certos setores do Judiciário com o bem-estar destes
frágeis seres humanos – soropositivos ou não, brancos ou negros, meninos
ou meninas. Crianças, em uma palavra. Mas que, a julgar pela cegueira
de muitos de toga e da ignorância de centenas de milhares de
brasileiros, transmitem a falsa impressão de que ninguém quer. Triste
que seja assim.
Aurélio Munhoz é jornalista, sociólogo, consultor em Comunicação e
presidente da oscip Pense Bicho. Pós-graduado em Sociologia Política e
em Gestão da Comunicação, foi repórter, editor e colunista na imprensa
do Paraná.
Fonte: ANDI
Fonte: ANDI
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