Prof. Dr. Reginaldo de Souza Silva*
É
triste dirigir ao estabelecimento educacional da maioria da população
baiana e não poder afirmar: AQUI TEMOS QUALIDADE! AQUI TODOS SÃO
RESPEITADOS! AQUI A EDUCAÇÃO É PRIORIDADE!
Volta
e meia aparece na mídia nacional e local a procura por soluções que
todos os educadores vem clamando há décadas. Sendo assim, perguntamos: É
possível superarmos o fracasso da educação na Bahia? A resposta atual é
sim – através de um Pacto.
Neste sentido, apoiado nas contribuições do Reverendo Herman Hoeksema, traduzido por Felipe Sabino de Araújo Neto em 2007, vamos tentar elucidar o Significado da Palavra Pacto que a Escritura utiliza. A derivação da palavra בּרית (berith)
do Antigo Testamento é incerta. Alguns pensam que a palavra é derivada
de um termo que significa "cortar." De acordo com essa interpretação, berith
está conectado com o costume de cortar os animais do sacrifício pelo
meio e colocar as metades umas defronte das outras quando um pacto era
concluído, para que as partes pactuais
pudessem passar entre os pedaços daqueles animais sacrificiais como um
sinal e juramento da fidelidade delas. Quando o Senhor concluiu seu
pacto com Abraão, de acordo com Gênesis 15:9-17, ele se adaptou a esse
costume.
Creio
que a população baiana já não tem onde mais se cortar, o sacrifício
chega a beira do caos. Aumenta a violência (assaltos, estupros,
assassinatos) os impostos, as promessas, a troca e venda de cargos, a
privatização, o desrespeito e desvalorização dos docentes da educação
básica e superior etc. Portanto, exigir mais sacrifício é demais.
De acordo com outros, o termo para pacto
no Antigo Testamento significa um laço (vínculo) e deve ser derivado de
uma palavra que significa "obrigação." O fato é que o termo para pacto,
que parece aproximadamente trezentas vezes no Antigo Testamento, tem
mais de uma vez o significado de um testamento, e no grego é traduzido
pelo termo διαθήκη, uma palavra que tem exatamente esse significado.
Hoje, portanto, significa acordo, trato, compromisso, entre pessoas,
grupos ou países, combinação, convenção, tratado.
Assim,
parece que a palavra de ordem para quem não tem ordem na educação
baiana é um Pacto, que visa melhorar a qualidade das escolas públicas
estaduais e municipais, em toda a Bahia, por meio de um regime de
colaboração com os municípios e a parceria da sociedade (que há muito
vem pagando a conta dos resultados catastróficos).
Em
pleno século XXI temos que ter como bandeira alfabetizar todas as
crianças, jovens e adultos. No entanto, é preciso ressaltar que
alfabetizar vai muito além da decodificação de letras, ou seja, do usual
aprender a ler e escrever. Precisamos avançar e atingir o letramento.
Continuam
a acreditar que as aprendizagens prioritárias deveriam ser (Língua
Portuguesa e Matemática), mas, infelizmente, jogamos todo dia no lixo a
história, as artes, a cultura, a geografia, as ciências e a educação
física que para os mais pobres é resumida em um “profissional” (monitor
sem formação) e se confunde com recreação em um espaço qualquer de terra
ou cimento batido (nas poucas escolas que existem) e querem assegurar o
sucesso no seu percurso educativo!
A
fala do governo da Bahia em 2009 era de alerta: “Reverteremos esse
quadro com o apoio do governo federal, dos professores e da comunidade”,
pois a Bahia tem o pior índice educacional do Brasil e a mais alta taxa
de analfabetismo — dois milhões de baianos não sabem ler nem escrever.
Hoje
tenta colocar como meta a elevação dos índices de aprovação para 90%
nas séries iniciais, 85% nas séries finais do ensino fundamental e 80%
nas séries finais do ensino médio. Não são os índices a questão. O
problema, não é ser aprovado, é a qualidade desta aprovação, que deve
ser revertida em apropriação do conhecimento elaborado e sistematizado
pela humanidade, as habilidades, competências e atitudes necessárias a
vida social. E isto não se faz com discursos, mas com escolas com
estrutura física adequada, materiais pedagógicos, laboratórios, e
profissionais da educação respeitados com plano de cargos e salários
dignos, formados em nível superior (e não certificados em cursos caça
níqueis).
A
fotografia, a radiografia da realidade educacional baiana está longe de
ser superada apenas pela propaganda, pela realização de eventos de
“animação”, chamados “pactos”, pois a realidade esta aí, qualquer
cidadão pode constatar, das Piores notas no Brasil cinco estão na Bahia: Apuarema
(BA) 0,5 (há dúvidas),Pedro Alexandre (BA) 2,0, Nilo Peçanha (BA) 2,1,
Manoel Vitorino (BA) 2,1, Dario Meira (BA) 2,2, Pilão Arcado (BA) 2,2.
Para
não dizer que tudo está ruim o governo baiano por intermédio de sua
secretaria de educação divulga os dados do (Inep) apontando para o ensino médio uma superação das médias, a nota prevista para 2009 era 3,1 e registrou 3,3, superando também a projeção para 2011, que é de 3,2.
No
ensino fundamental o resultado de 3,8 nas séries iniciais (1ª a 4ª
série) superou a meta do ano passado, que era de 3,1, e atingiu a meta
prevista para 2013 (3,8). Nas séries finais (5ª a 8ª série), a meta era
3,0 ultrapassou e marcou 3,1. Vejam que os índices de “superação” foram
estrondosos!
O
que os municípios deveriam fazer, todos sabem, mas porque não fazem?
Deveriam viabilizar a formação em nível superior de todos os
professores, responsabilizarem-se pela gestão, ofertar apoio escolar e
acompanhamento, avaliar as ações do programas de melhoria da educação no
município, a implantação de uma cultura de leitura nas escolas e na
cidade. Mas como fazer sem espaços adequados e sem livros?
Um
Pacto envolvendo todos pela Educação exige ética, compromisso,
respeito, vai além, é claro, da parceria com os municípios que são
chamados a pagarem as contas juntamente com professores e a população.
Portanto,
devemos superar ações e propagandas utilizando o chapéu alheio. Pactos
se iniciam pelo exemplo e a união entre governo, sociedade, comunidades
escolares e iniciativa privada no intuito de tornar a escola pública da
Bahia um espaço qualificado, requer fazer a autocrítica, avaliar-se,
trocar os fundamentos éticos na base de apadrinhados políticos, para a
competência técnica e o compromisso social.
Precisamos
sim, ampliar o acesso à educação integral (mas não esta que estamos
vendo, a utilização de espaços improvisados, a substituição de
professores concursados, por monitores sem formação e seleção pública
definida), a valorização e formação dos profissionais, o fortalecimento
da gestão democrática participativa (escola não é empresa,
direção/cargos não devem ser mercadoria, utilizada como moeda de troca e
favores) na rede e o desenvolvimento de jovens para o mundo do trabalho
e a vida social.
Conclamo os docentes da educação básica e superior e também a população baiana a continuarem a luta pela: a) Alfabetização
e Letramento de todas as crianças, jovens e adultos, denunciando e
combatendo o fracasso da política educacional na Bahia expressa no alto
índice de analfabetismo; b) Denunciar e combater o sucateamento das
escolas que contribuem para repetência e o abandono (expulsão) escolar;
c) Assegurar a alfabetização e a escolaridade aos que não puderam
efetuar os estudos para além de programas de certificação conhecidos
como TOPA e finalmente demonstrar ao governo da Bahia que não haverá
superação do quadro vergonhoso da educação em nosso estado sem a
valorização dos profissionais da educação e o fortalecimento de uma
gestão democrática e participativa na rede de ensino e o respeito a
autonomia das universidades.
*
Reginaldo de Souza Silva, Doutor em Educação Brasileira, professor do
Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da UESB. Email: reginaldoprof@yahoo.com.br.
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