O
enredo do suposto esquema de corrupção no Ministério do Esporte,
denunciado no fim de semana, teve nesta quarta-feira novas acusações e
ganhou um novo personagem, o ex-ministro do Esporte e governador do
Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT).
Enquanto
o ministro do Esporte, Orlando Silva (PcdoB), repetia pelo segundo dia
consecutivo, desta vez no Senado, que jamais recebeu propina
proveniente de recursos do programa Segundo Tempo, seu denunciante, o
policial militar João Dias Ferreira, voltou a dizer que em breve
apresentaria provas das acusações contra o ministro feitas à última
edição da revista Veja.
O
embate, no entanto, foi parcialmente ofuscado pela revelação de que o
governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), está sendo
investigado por supostamente ter recebido propina de R$ 256 mil em
desvios de dinheiro do mesmo programa Segundo Tempo. Queiroz chefiou o
Ministério do Esporte entre 2003 e 2006, no primeiro mandato de Luiz
Inácio Lula da Silva.
Segundo
reportagem da Folha de S.Paulo desta quarta, o inquérito que investiga
o caso foi encaminhado pela Justiça Federal de Brasília ao STJ
(Superior Tribunal de Justiça) na terça-feira da semana passada. A
mudança do foro do processo atendeu a pedido do Ministério Público
Federal.
Em
nota, o governo do DF afirmou que a existência do inquérito "carece de
aptidão para firmar premissa de que Agnelo Queiroz praticou ato
reprovável legal e eticamente, quando foi ministro do Esporte".
"Inquérito
é mero instrumento de apuração de fatos, verdadeiros ou falsos,
pendentes de confirmação de materialidade e de autoria, sem que, pois,
se possa presumir responsabilidade", diz a nota.
Explicações
Em
seu depoimento no Senado nesta terça-feira, Orlando Silva disse que
quer encerrar nesta semana as explicações a respeito das denúncias,
para que possa seguir com a sua agenda no ministério.
"Pretendem tirar um ministro de Estado no grito", afirmou.
Silva
foi ouvido em sessão conjunta das comissões de Meio Ambiente, Defesa
do Consumidor, Fiscalização e Controle e a de Educação, Cultura e
Esporte. Ele afirmou que tem sofrido um "linchamento público" e
desafiou os acusadores a apresentar provas contra ele.
"Eu combati a corrupção. E o que a pessoa faz? Ela me acusa de desviar recursos públicos que ele desviou".
Já
o policial João Dias Ferreira afirmou, antes de prestar depoimento na
Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal, que
apresentaria "pelo menos duas provas cabais que estavam apreendidas
desde a Operação Shaolin".
A
Operação Shaolin foi feita no ano passado pela Polícia Civil do DF
para investigar convênios entre duas entidades ligadas ao policial e o
Ministério do Esporte.
Os envolvidos são investigados por crimes de estelionato e falsificação de documento, entre outros.
Denúncia
Em entrevista à Veja no
fim de semana, o policial João Dias Ferreira e o motorista Célio
Soares Pereira acusaram Orlando Silva de receber dinheiro vivo na
garagem do Ministério do Esporte, no fim de 2008. O dinheiro faria
parte do programa Segundo Tempo, que destina verbas a ONGs com o
intuito de incentivar a prática esportiva entre jovens.
Ferreira
diz que o ministro cobrava 20% das entidades contempladas no programa.
O esquema, segundo ele, teria desviado R$ 40 milhões ao longo de oito
anos.
Orlando
Silva nega as acusações e diz que elas podem ser uma reação ao pedido
que fez para que o os convênios do ministério com organizações
presididas por João Dias Ferreira fossem examinados pelo Tribunal de
Contas da União (TCU).
Ex-militante
do PCdoB, João Dias Ferreira presidiu duas entidades suspeitas de
desviar cerca de R$ 2 milhões do programa Segundo Tempo. Ele é acusado
de usar o dinheiro para a compra de uma casa avaliada em R$ 850 mil e
financiar sua campanha para deputado no Distrito Federal, em 2006.
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