Já faz algum tempo que
venho observando o que nós, brasileiros, estamos “consumindo” através das
mídias de massa (principalmente TV e rádio). E, para ser sincero, tenho sentido
certo incômodo com a maneira com que alguns valores, considerados até a pouco
tempo como necessários para manutenção da coletividade, têm sido
desconstruídos.
O que me leva a trazer
esse sentimento de incômodo a público não é o fato de achar que os valores são
imutáveis ou de pensar que no passado as coisas eram melhores. Pelo contrário,
eu acredito na dinâmica da história humana e não sofro de qualquer mal do
saudosismo. O que me move neste momento é exatamente a preocupação em ver
conquistas da humanidade importantes porque permitiram a liberdade, a
emancipação de grupos até então discriminados, serem tratadas com banalidade e
até ridicularizadas.
Compreendo, que a complexidade do
conceito de cultura implica em uma visão antropológica, uma rede de
significados que dá sentido ao mundo que cerca um indivíduo, a sociedade. Essa
rede engloba um conjunto de diversos aspectos, como crenças, valores, costumes, leis, moral, línguas, etc.
Entretanto, qual foi a
minha surpresa quando por ocasião do início de uma dessas novas novelas, li o
seguinte comentário do telespectador: “um sucesso, estou ansioso para o segundo
capítulo, pois, no primeiro, quase aconteceu um estupro!”. Na minha surpresa,
fiquei perguntando o que seria uma
mulher para aquele jovem. O que ele poderia considerar como “um sucesso” ver
(talvez ao lado de sua mãe ou namorada) uma mulher ser subjulgada e violentada
simplesmente pelo fato de ser uma mulher. Isto é divertimento?
Será que chegamos ao
fim do poço?
Músicas, novelas,
seriados, reportagens, shows, programas diários e semanais naturalizando a
violência contra a mulher, cheios de conteúdos homofóbicos e racistas invadem o
nosso cotidiano. A falsa igualdade de gênero e de etnia eivada de
discriminações e preconceitos. Querem exemplos? Na última novela de “sucesso”,
quantas mulheres efetivamente trabalhavam e eram senhoras de suas vidas não se
subjulgando aos desejos masculinos? E a empregada negra, verdadeira guardiã de
sua patroa vilã, que dava a entender que assumia esse papel não por ter uma
índole ruim, mas por total incapacidade intelectual? E o que dizer da ideia
propagada do consumo pelos homossexuais nos programas de TV: a de que é
possível aceitá-los desde que se mantenham em seus lugares e gastem bastante
dinheiro? E esses são apenas alguns exemplos.
Há muito se afirma que
o brasileiro não tem “cultura”, que ele “não se manifesta como deveria frente
aos escândalos de corrupção, a falta de gestão publica, as programações de
baixo nível na TV, nos jornais, rádios e nos Shows”. Onde estará a raiz do
problema? Estará na baixa qualidade do sistema de ensino no país? Estará nas
influencias e tendências das mídias que se utilizam da alienação para obter
resultados a seu favor, audiência para seus programas e consumidores para seus
anunciantes. Ou será tudo isso apenas “sinais do tempo”, do tempo que ainda não
veio, mas que está se constituindo? Resta, porém, perguntar: este é o tempo que
você quer ver se constituir?
O que assistimos, ouvimos, vivenciamos, é o consumo a
qualquer custo. Filho(a)s não respeitam
mais seus avós, pais, mães, tias e amigos. Ética, honestidade, respeito -
palavras e atos em extinção nas empresas, escolas, universidades e sociedade em
geral. Juntamente com a religião viraram mercadorias divulgadas em qualquer
praça não importando a pessoa. Você pode fazer a diferença! Lixo Cultural: infelizmente ainda
não chegamos ao fim do poço!
Prof. Dr. Reginaldo
de Souza Silva – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
reginaldoprof@yahoo.com.br
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