Por Camila Moreira DRT 3776
Apenas nos dois primeiros meses de 2013, 605 mulheres já procuraram a Defensoria para denunciar agressões sofridas
Quase sete anos depois de criada a Lei Maria da Penha, prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, conforme prevê a norma, ainda é um desafio no Brasil. Segundo dados do Mapa da Violência 2012, nos 30 anos decorridos entre 1980 e 2010 foram assassinadas no país acima de 92 mil mulheres - 43,7 mil só na última década. O número de mortes nesse período passou de 1.353 para 4.465, o que representa um aumento de 230%, mais que triplicando o quantitativo de mulheres mortas. A Bahia ocupa a sexta posição em homicídios de mulheres (taxa de 6,1 homicídios para cada grupo de 100 mil mulheres). A média nacional é de 4,6 assassinatos.
Na semana em que se comemora o Dia
Internacional da Mulher, os números do Núcleo Especializado na Defesa
da Mulher da Defensoria Pública da Bahia - NUDEM, comprovam o que, na
prática, as instituições ligadas ao atendimento à mulher vítima de
violência constatam: o perigo não mora ao lado, e sim, junto, já que
as agressões começam em casa. Apenas em 2012, das 4.058 mulheres
atendidas pela Defensoria por terem sido agredidas ou sofrido ameaças
de agressão/morte, mais da metade dos agressores foram identificados
como os próprios companheiros, maridos ou ex-companheiros das vítimas.
Ao procurar a Defensoria Pública, a vítima de violência é
atendida pelas defensoras, que analisam a situação apresentada e
verificam que medidas deverão ser adotadas. Dependendo do caso, a
instituição poderá entrar com ações de medidas protetivas - medidas de
urgência, em casos onde a vítima corre sério risco de ser agredida ao
voltar para casa depois de fazer a denúncia. Entre elas, estão, por
exemplo:
• Obrigar que o agressor seja afastado da casa ou do local de convivência da vítima;
• Proibir que o agressor se aproxime ou que mantenha contato com a vítima, familiares e testemunhas;
• Obrigar o agressor à prestação de alimentos para garantir que a vítima dependente financeiramente não fique sem recursos;
•
Proibir temporariamente contratos de compra, venda ou aluguel de
propriedades que sejam bens comuns. Quem decide, no entanto, se há ou
não necessidade de tomar essas medidas é o juiz.
A defensora
pública Firmiane Venâncio lembra que, após ajuizar a ação, a Defensoria
Pública ainda acompanha o caso, atuando em parceria junto à rede de
proteção à mulher, que inclui Delegacia de Apoio à Mulher - DEAM,
Ministério Público, Secretaria de Trabalho, Emprego e Renda - SETRE e
Vara da Violência Doméstica. "Nossa obrigação é promover a atenção
integral à assistida, trabalhando de forma articulada. Em casos onde o
impedimento da separação da mulher se dá em virtude de uma dependência
financeira, por exemplo, verificamos o perfil da assistida e a
encaminhamos à SETRE, onde ela passará por cursos de qualificação que
vão garantir sua empregabilidade. Se for um caso de necessidade urgente
de afastamento do lar, também encaminhamos à Casa de Abrigo (local
onde as mulheres em situação de risco são acolhidas)", explicou a
defensora.
NÚMEROS DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
De
acordo com o Mapa da Violência, Salvador é a quinta capital em número
de homicídios femininos, com uma taxa de 8,3 para um grupo de 100 mil
mulheres - a média nacional é de 5,4 assassinatos. O levantamento
mostra, ainda, que entre as 10 cidades brasileiras mais violentas,
quatro delas estão na Bahia. Porto Seguro, que figura no ranking
nacional como a terceira cidade com maior índice de homicídios femininos
- 22,1 para cada 100 mil mulheres, Simões Filho, logo atrás, em
quarto lugar (21,4), Lauro de Freitas (20,2) e Teixeira de Freitas
(18,5).
Por mês, cerca de 300 mulheres são atendidas pelo
NUDEM. Apenas nos dois primeiros meses deste ano, 605 mulheres já
procuraram o Núcleo. "Elas chegam, na maioria das vezes, com algum
conhecimento sobre a Lei Maria da Penha e sabem que a norma jurídica
foi criada para protegê-las de violências praticadas pelo companheiro,
marido, namorado ou ex. Embora nem sempre estejam dispostas a levar
adiante um processo criminal contra o agressor, acreditam que é preciso
‘dar um susto' nele, para que a situação de violência seja
resolvida", esclareceu Firmiane.
VIOLÊNCIA X EXCESSO DE AMOR
VIOLÊNCIA X EXCESSO DE AMOR
Para
a defensora, há uma espécie de "ciclo da violência", recorrente em
muitos dos casos atendidos. "Existe o chamado ciclo da violência que
possui diferentes fases. Entre elas, mas sem excluir outras, está a do
rompimento com a violência, que é a denúncia. Tem também a chamada fase
‘lua de mel', que é a resiliência em prol da harmonia do lar e do
casamento - a mulher volta atrás, perdoa o companheiro e retira a queixa
registrada. No entanto, em alguns casos, uma nova fase do ciclo
acontece, que é quando ela é novamente agredida e, desta vez, a agressão
pode ser fatal", destacou.
Firmiane explica que costuma
alertar as assistidas quanto ao limite daquilo que considera situação
crítica. Para ela, não se deve esperar tal ponto para que se procure
uma das instituições e denuncie a agressão. "É preciso que as mulheres
tenham noção do quanto a relação está se tornando violenta e,
portanto, perigosa. Certos comportamentos opressivos e limitadores não
devem ser considerados como excesso de amor", sentenciou.
Embora
o maior número de mulheres atendidas pela Defensoria seja de pessoas
com renda familiar de até um salário mínimo, a defensora lembra que a
violência doméstica também acontece nas classes média/alta. No
entanto, o que muda é a maneira de resolver o problema. Enquanto as
mulheres com boas condições financeiras preferem a discrição e
utilizam uma série de recursos para não se expor, como, por exemplo, a
transferência de emprego ou a mudança de endereço, a mulher
hipossuficiente tenta suportar ao máximo a situação de violência, já
que existe uma relação de extrema dependência econômico-financeira.
Mulheres vítimas de violências físicas, morais, psicológicas, sexuais
ou patrimoniais podem procurar o Núcleo Especializado da Defensoria
Pública, que funciona na Rua Pedro Lessa, 123, Canela. A unidade atende
de segunda a quinta-feira, das 8h30, às 12h e das 14h às 18h. Algumas
orientações podem ser obtidas, inclusive, pelo telefone 3117-6935.
PROGRAMAÇÃO MÊS DA MULHER COM A PARTICIPAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA
08/03
- Café da Manhã na Arena Fonte Nova, às 8h, com as mulheres que
ajudaram na construção da Arena. O encontro contará com a presença do
governador Jaques Wagner;
08/03 - Participação em
confraternização no Hospital de Custódia e Tratamento de Salvador. O
objetivo da ação, promovida pela ADEP, é levar dignidade às 17 mulheres
com problemas psiquiátricos que abrigam o local. A atividade acontecerá
às 15h;
11/03 - Participação na Sessão Especial
do 08 de Março na Câmara de Vereadores de Salvador, às 18h, quando
será assinado o termo de compromisso de Salvador com a Campanha "Quem
Ama Abraça";
15, 22 e 29/03 - Palestras educativas no bairro de Castelo Branco. A primeira delas acontecerá no Centro Social Urbano do bairro, às 14h;
15 e 16/03
- Participação na 1ª Reunião Ordinária da Comissão Especial de Defesa
dos Direitos da Mulher do CONDEGE, em São Paulo. O encontro tem como
objetivo concluir a votação do Protocolo Mínimo de atuação dos Núcleos
de Defesa da Mulher das Defensorias Públicas, processo este iniciado no
mês de novembro na reunião sediada na Bahia.
Debates, palestras e outras ações ainda estão previstas e aguardam confirmação de dias e horários.
Fonte: Defensoria Pública do Estado da Bahia
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