terça-feira, 29 de novembro de 2011

Palmada no descontrole - Artigo 1

Crescer - Notícias

Enquanto a Lei da Palmada não entra em vigor, veja aqui por que bater na criança ainda é uma alternativa tão aceita pela sociedade - e como, apesar de muitos ainda acharem o contrário, ela NÃO funciona

Jussara Mangini

Fotomontagem: Jupiterimages/Gettyimages/Sylvia Torres/Corbis
Rumo ao bullying 
Mas a grande pergunta de muitos pais é: dá para educar sem bater? Para o administrador de empresas Ricardo Vieira Simplício, 38 anos, pai de um casal, Giulia, 13, e João, 3, sim, pois ele defende que “educar é pegar na mão” e dialogar. Já bateu uma vez nos dois, apanhou quando pequeno, mas acredita que na conversa e sob estado emocional equilibrado dos pais é que eles aprendem de fato. “Abre um horizonte incrível de possibilidades”, diz Simplício. 

Na cidade de São Carlos, interior de São Paulo, Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams, coordenadora do Laboratório de Análise e Prevenção da Violência, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), estuda o assunto e diz que ao contrário do que muitos adultos pensam, o castigo corporal não torna as crianças obedientes a curto prazo, não promove a cooperação a longo prazo ou a internalização de valores morais, nem reduz a agressão ou o comportamento antissocial. O uso frequente desse método ensina para a criança que os conflitos e diferenças podem ser resolvidos com o uso da força e alimentam o ciclo de violência em nossa sociedade. Segundo ela, pesquisas indicam que os alunos que são autores de bullying na escola, em sua maioria, vêm de lares onde há utilização de violência física como forma de disciplina. “Geralmente a família é descrita como hostil e permissiva, tem poucas habilidades de resolução de conflitos e ensina suas crianças a revidarem à mínima provocação”, conta. Em um estudo recente realizado por ela e pela psicóloga Fernanda Pinheiro com 239 alunos de três escolas públicas da cidade, com idades entre 11 e 15 anos, 49% admitiram envolvimento com bullying nos três meses anteriores à pesquisa, sendo que 26% disseram-se vítimas, 21% alvos e autores, e 3% apenas autores. De todos eles, somente 15% afirmaram não ter sofrido qualquer violência dos pais. 

Muitas vezes, a violência física ou psicológica acaba acontecendo num rompante, e não por metodologia. Nesses momentos os pais podem sentar com seus filhos e serem sinceros com eles, explicando que perderam o controle e que se arrependem. Esse tipo de atitude, que é um ótimo exemplo de humildade e de respeito com o outro, é estimulada pela rede Não Bata, Eduque, criada para provocar o debate no Brasil. Duas das instituições integrantes dela são a Fundação Xuxa Meneghel e a Save the Children, da Suécia. Suas representantes, respectivamente Xuxa Meneghel e a rainha Silvia, participaram no meio deste ano de um evento na Câmara dos Deputados sobre a Lei da Palmada, e prometeram se manter atentas ao rumo que a discussão irá tomar. A Suécia tem experiência: foi o primeiro país a banir castigos físicos, em 1979. Hoje outras 28 nações – como Dinamarca, Espanha, Alemanha, Portugal, Uruguai e Venezuela – aprovaram medidas banindo a prática. “Uma das coisas mais importantes para evitar ou diminuir os conflitos dentro de casa é conhecer as fases do desenvolvimento de uma criança, bem como suas características, limitações e os cuidados necessários em cada uma delas. Sem conhecer esses limites dados pelo desenvolvimento, os pais tendem a se irritar com o que a criança faz ou não consegue fazer”, diz Ana Paula Rodrigues, coordenadora do Programa de Atendimento Integrado da Fundação Xuxa Meneghel. 

Ser pai exige treino contínuo. Mudamos de ideia, aprendemos e reaprendemos o tempo todo. O mundo está assim: por trás desses movimentos em que as pessoas se tornam mais conscientes de seus atos há uma palavra mágica – respeito. Crianças merecem respeito, amor e afeto, e também têm o direito de crescer com limites. A terapeuta Luciana Caetano apresenta em seu livro um capítulo chamado “Amor”, em que ela elenca desejos de “boas escolhas” aos pais. A primeira delas termina bem esta reportagem: “Que você escolha educar o seu filho todo dia, em vez de uma vez por todas.” 


Por que não ser agressivo com os filhos nunca 
• Mesmo obedecendo, a criança que apanha não aprende, apenas deixa de fazer certas coisas por medo de apanhar. 

• O castigo físico ensina que “é batendo que comunicamos coisas importantes”. Quando têm medo de ser castigadas, as crianças não se arriscam a tentar coisas novas. Assim, não desenvolvem sua criatividade, sua inteligência e seus sentidos. 

• Apanhar pode gerar na criança o sentimento de que ela é muito má e desobediente e, por isso, merece esse tipo de tratamento. 

• A maioria dos autores ou vítimas de bullying vêm de lares onde há utilização de violência física como forma de disciplina. 

• Até um adulto, quando apanha, sente-se humilhado. Ninguém tem motivação para agradar a pessoa que maltrata. O sentimento é de ressentimento, medo ou desejo de revidar. 

• 38% de crianças e jovens que fogem de casa apontam como causa a tentativa de escapar dos problemas de convivência no lar. 

• Os maus-tratos prejudicam o desenvolvimento porque reduzem o funcionamento intelectual - afetando a memória, a leitura e as habilidades intelectuais em geral, o que traz problemas escolares; levam a condutas inadequadas, antissociais e repetição de modelos agressivos; geram ansiedade, depressão, distúrbios no sono, enurese noturna e distúrbios de alimentação. 

Fonte: Rede Não Bata, Eduque e Laboratório de Análise e Prevenção da Violência da UFSCar

Saiba como agir se o que tira você do sério é... 
Ataques de birra: Tentar controlar um escândalo é como tentar dominar uma tempestade. Não é possível e é uma forma de a criança dizer que está frustrada. Para evitar os ataques, prefira sair com seu filho quando ele estiver descansado e alimentado e leve um brinquedo para distraí-lo. Deixe-o ajudar nas compras e converse sobre o que está comprando – peça para ele falar o que acha de um determinado produto. 

Desobediência: Há um período em que “não” torna-se a palavra preferida da criança. Mas ela experimenta os limites (seus e dela). Por isso, é importante a criança saber por que você considera o que ela acabou de fazer como errado e como poderia ter feito diferente. Uma alternativa é oferecer outra atividade, desviando a atenção da criança para algo mais interessante. Mas se a opção for o castigo, ela deve saber o que fez. Lembre-se: para quem tem de 3 a 7 anos, o castigo deve durar um minuto para cada ano de idade. No caso de uma criança em idade escolar, ela pode ficar um dia inteiro sem um brinquedo, por exemplo. Deixar o filho sem TV ou videogame não funciona com menores de 3 anos porque eles não associam o erro ao castigo. Na hora do mau comportamento, critique o comportamento e não a criança. Diga: “É feio fazer isso que você fez”, e não “que menina mais feia. Não faça mais isso”. 

Brigas: Pontapés, tapas e socos podem virar uma alternativa para a criança quando ela não consegue se comunicar bem. Mesmo que bem pequena, verbalize que você está percebendo que ela está brava e que tem o direito de sentir-se assim (é muito importante para a criança, e os adultos também, que validemos seus sentimentos). Faça-o perceber que não é a raiva dele que você desaprova e sim a maneira como ele a demonstra. 

Medos e mudanças de comportamento: Os pais precisam estar preparados para que uma criança de 6 anos, por exemplo, se arrependa de dormir na casa de um amigo e sinta saudade de casa. Muitas vezes, ela não tem os recursos internos para suportar uma decisão tomada. Também é comum que algumas crianças maiores voltem a se comportar como bebês, querendo colo, comida na boca, etc. Antes de repreendê-las procure a causa. 

Fonte: Fundação Xuxa Meneghel, Rede Não Bata, Eduque e dicas de especialistas ouvidos na reportagem

Um comentário:

Anônimo disse...

mto interessante, vcss estão de parabéns...
pena que assuntos como estes, não chamam a atenção dos que realmente
deveriam ver.

continue com o trabalho, é maravilhoso.

Disque Denúncia Nacional - DDN 100