JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO
DE RIBEIRÃO PRETO
Uma professora de português de uma escola estadual de São Carlos (232 km de São Paulo) pediu que uma aluna de 12 anos acessasse a internet para conversar com um pedófilo, como parte de uma tarefa escolar.
O pedido foi registrado pela professora no caderno da estudante, em forma de um bilhete para os pais, segundo a família da garota.
O Conselho Tutelar da cidade fez uma cópia do bilhete para encaminhá-lo ao Ministério Público Estadual. A Secretaria de Estado da Educação vai afastar a docente.
O caso ocorreu na escola estadual Professora Maria Ramos, no bairro Boa Vista. A classe foi dividida em grupos, e o tema do trabalho da aluna era sobre pedofilia.
O bilhete, mostrado à Folha pelo Conselho Tutelar e pela família, orienta a garota a entrar "numa sala de bate-papo com nome fictício, mas idade real", com o objetivo de tentar atrair um pedófilo para a conversa on-line.
O texto ainda orienta a aluna a imprimir a conversa para anexá-la ao trabalho.
Aos pais a orientação do bilhete era que vigiassem a conversa online da filha, porque o "único objetivo é mostrar a eles [alunos] o risco desse tipo de conversa".
Além do bilhete, a mãe da aluna, uma autônoma de 37 anos, conta que a professora ainda pediu que, após a conversa, a menina marcasse um encontro com o pedófilo em frente à catedral da cidade.
O encontro, afirma a mãe, seria "flagrado" pela própria professora, que estaria escondida com uma câmera fotográfica nas mãos --o pedido para marcar o encontro não consta do bilhete.
A autônoma diz que a filha chegou em casa, na última quarta-feira, assustada com a tarefa e que lhe mostrou o bilhete da professora.
A menina temia que, se não fizesse o trabalho, seria prejudicada nas notas do final de ano na escola.
"Fiquei revoltada. Como se pede isso a uma menina dessa idade? Ela acha que a pessoa do outro lado ia falar: 'Oi, tudo bem' para minha filha? Não. Ia usar palavras de baixo calão", disse a mãe.
No dia seguinte, a autônoma diz que cobrou explicações da direção da escola e da professora, que, segundo a mãe, se manteve calada.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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TAREFA 'NORMAL'
A direção da escola defendeu a professora, dizendo que o trabalho escolar era normal, segundo a mãe.
"Normal? Isso me revoltou. Então se forem sugerir um trabalho sobre drogas vão mandar minha filha ir a uma biqueira comprar droga?"
A conselheira tutelar Rose Helena Aparecida Polese disse que o órgão vai notificar a escola para prestar esclarecimentos. O caso será depois encaminhado à Promotoria da Infância e da Juventude.
Por causa da tarefa e da reação da escola, a mãe disse que pretende transferir a filha --a menina não vai às aulas desde quinta-feira.
A reportagem da Folha não conseguiu localizar a professora --seu nome não foi revelado pelo Estado. Não foi possível ontem localizar a direção da escola.
ESTADO
Em nota, a Secretaria de Estado da Educação disse que determinou o afastamento da docente.
A pasta informou ainda, por meio de sua assessoria, que, depois de saber da ocorrência pela direção da escola, "determinou, nos termos da lei, a instauração de um procedimento preliminar para apuração de responsabilidades e também o afastamento da docente".
Enquanto não houver a conclusão desse procedimento, diz ainda a nota, "a administração não dará mais informações sobre o caso, pois terá de atuar como instância de decisão, não podendo, portanto, correr o risco de caracterizar prejulgamento".
Ainda de acordo com a assessoria de imprensa do governo estadual, em razão do feriado da Proclamação da República --nesta terça-feira--, e da suspensão de aulas de ontem, a publicação do afastamento da professora só deve ser formalizada a partir de amanhã.
A reportagem não conseguiu localizar a professora citada na denúncia.
Também não foi possível ouvir a direção da escola sobre o relato da mãe, que afirmou que a diretora disse não ter visto problemas na lição passada pela professora.
Fonte:Folha.com
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