Em uma aconchegante casa no bairro de Madalena, no Recife,
voluntários abrigam crianças vítimas de abandono e maus-tratos e lutam
para manter famílias unidas
Iara Medeiros
Daniel
Andrade, 31 anos, tem uma rotina agitada. Ex-militar do Exército, faixa preta
de judô e jiu-jitsu, ele divide seu tempo entre as aulas nas duas academias em
que trabalha e o curso de Educação Física. “Sempre fui hiperativo, mas graças
aos pais maravilhosos que tive, que me incentivaram a praticar esportes,
aprendi a ter disciplina”, conta o rapaz, que é bastante apegado à mãe, a quem
visita toda semana. Ele também é o pai dedicado de uma menina de 9 anos, fruto
de um relacionamento anterior. Mas a história poderia ter sido diferente.
Daniel é uma das 2 mil crianças que já passaram pelo Lar do Neném, local que
acolhe menores de 3 anos vítimas de abandono, negligência ou maus-tratos, no
Recife (PE). A entidade fica em uma aconchegante casa no bairro de Madalena,
região de classe média da capital pernambucana, e foi criada há 34 anos por um
grupo de senhoras voluntárias, com o objetivo de amparar grávidas e seus bebês
que seriam adotados. Daniel foi adotado com poucos dias, mas a mãe biológica
frequentava a entidade desde a gravidez. Na última década, no entanto, o Lar
percebeu que devia fazer mais. Resolveu mudar para atender o Estatuto da
Criança e do Adolescente, e hoje prioriza a criação dos filhos nas famílias de
origem.
O Lar, que não possui fins lucrativos, recebe crianças encaminhadas pelos Conselhos Tutelares e Comarcas da capital e do interior. Para cuidar delas – uma média de 60 ao ano – há uma equipe formada por 32 funcionários das áreas de saúde, psicologia, pedagogia, assistência social e administração, além da colaboração de 40 voluntários. Augusta Matta, coordenadora do Lar, é uma delas. “Os voluntários ajudam na socialização das crianças, na captação de recursos, nas oficinas e bazares, que funcionam diariamente”, conta.
O Lar, que não possui fins lucrativos, recebe crianças encaminhadas pelos Conselhos Tutelares e Comarcas da capital e do interior. Para cuidar delas – uma média de 60 ao ano – há uma equipe formada por 32 funcionários das áreas de saúde, psicologia, pedagogia, assistência social e administração, além da colaboração de 40 voluntários. Augusta Matta, coordenadora do Lar, é uma delas. “Os voluntários ajudam na socialização das crianças, na captação de recursos, nas oficinas e bazares, que funcionam diariamente”, conta.
Em um esforço para manter as famílias unidas, o Lar do Neném oferece a pais ou responsáveis oficinas de arte-terapia (artesanato, pintura e costura, entre outras) e também um estágio de cuidados materno-infantis. Hoje, as crianças internas por determinação judicial vão para adoção só em último caso. “Todas as cinco crianças encaminhadas recentemente pelo Programa Mãe Legal retornaram às suas famílias de origem”, orgulha-se Augusta, ao falar sobre o projeto instituído pela lei 12.010/09 que garante apoio a gestantes que manifestam desejo de entregar os filhos à adoção. O programa mostra a essas mães que há uma cadeia de benefícios públicos dos quais elas podem dispor para criar os próprios filhos. Um trabalho essencial, uma vez que o perfil das famílias atendidas reproduz a realidade dos centros urbanos: baixa escolaridade e pouco acesso ao mercado de trabalho formal, desestruturação familiar e envolvimento com álcool e drogas. Ao ser questionada sobre o que seria melhor: adoção ou retornar à família de origem, Augusta é imparcial. “É difícil fazer comparações”, diz. Mas acredita que os laços sanguíneos são fortes – e há muitos finais felizes por ali. Como a história do pequeno João, hoje com 3 anos, que foi abandonado pela mãe no hospital e encaminhado à instituição. Junto com o pai da criança, Peterson, 18 anos, a avó paterna se candidatou para assumir a guarda. “Meu filho não foi criado pelo pai, então, diz que nunca abandonaria João”, lembra Valdíria Gomes da Silva. Para provar que seria capaz de prover a família, a avó iniciou um curso de costura na casa. Um ano depois, além da alegria de ter o neto de volta, virou artesã profissional e dá aula no Lar três vezes por semana.
Mas quando ninguém da família biológica conquista a guarda, as crianças são levadas para adoção, dentro e fora do país. O que acontece, em geral, no período de seis meses a um ano. A dona de casa Lúcia Lins, 82 anos, voluntária desde 1983, relembra alguns casos de crianças que foram para o exterior. “Em uma viagem à França pude reencontrar seis delas e estão todas ótimas”, alegra-se. Dona Lúcia é sócia benemérita e comparece à casa uma vez por semana. “Só deixo de ir no dia em que morrer. É uma vida muito rica aqui dentro.”
Para a manutenção das atividades, o Lar também faz parcerias com instituições privadas. O bazar, por exemplo, funciona graças à ajuda de doações de brinquedos apreendidos pela Polícia Federal e de uma loja de roupas. Ali são vendidos ainda os produtos que surgem das oficinas nas quais colaboram as mães que lutam para resgatar os filhos. O Lar apenas promove acolhida: são os assistentes sociais que verificam se a família está apta a receber de volta a criança após sanar os motivos pelos quais perderam a guarda.
A equipe do Lar do Neném é incansável. “Depois de alugar a casa contígua para a realização das oficinas e a comercialização de itens do bazar, pretendemos reformar o pátio”, planeja Augusta. Mãe de dois filhos biológicos adultos, foi no Lar que ela conheceu a caçula, Luíza. A menina chegou ali com 6 meses e, quando completou 1 ano, Augusta a adotou. Saudável e brincalhona, a garota – hoje com 9 anos – é mais um exemplo dos felizes encontros promovidos pelo Lar do Neném. Seja com suas famílias de origem ou com as do coração.
Fonte: Crescer - Notícias
Nenhum comentário:
Postar um comentário