Especialistas destacam a importância do brincar na formação de adultos autônomos
No dia 24 de agosto se comemora o Dia da Infância, data dedicada à reflexão sobre as condições
sociais e econômicas nas quais as crianças vivem em todo o mundo.
Segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
(Cepal) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em 2011,
cerca de 63% das crianças que viviam na região se encontravam em
situação de pobreza.
Crianças
e adolescentes, devido à fase peculiar de desenvolvimento em que se
encontram, devem ser tratados como prioridade absoluta na elaboração de
políticas públicas que protejam e garantam o exercício pleno de seus
direitos. Porém, existe um direito de meninos e meninas que muitas vezes
passa despercebido, como se fosse menos importante ou supérfluo: o
direito de brincar.
A
professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e líder do Núcleo
de Estudos e Pesquisas do Brincar, Infância e Diferentes Contextos, Cleide Vitor Mussini Batista, explica que o direito de brincar é reconhecido internacionalmente desde 1959, com a assinatura da Declaração Universal dos Direitos da Criança,
que prevê o brincar como uma vertente do direito à liberdade de meninos
e meninas. “O brincar é a ação própria da infância e um dos elementos
formadores da personalidade infantil. É um fator determinante no
desenvolvimento emocional, psíquico, cognitivo e social da criança.”,
diz Batista.
De
acordo com Clóvis Boufleur, gestor de relações institucionais da
Pastoral da Criança, assim como meninos e meninas precisam de amor,
atenção e alimento, eles também precisam brincar. “Algumas pessoas ainda
acreditam que as crianças brincam apenas por prazer. Mas é através da
brincadeira que a criança recria as ações e situações do seu dia,
procura entender o significado das atividades realizadas pelos adultos,
os valores e costumes de sua família e do lugar onde vive. Ao brincar,
ela aprimora seus sentidos e movimentos, desenvolve sua linguagem e seu
pensamento”, conta Boufleur.
Dada
a importância dessa atividade para o desenvolvimento da criança, a
Pastoral incentiva o ato de brincar nas comunidades por meio do projeto Brinquedos e Brincadeiras,
que complementa as
ações básicas voltadas à saúde, nutrição, educação e cidadania
realizadas pela Pastoral. O projeto teve início em 1995 e utiliza um
sacolão de brinquedos para garantir e incentivar que o direito de
brincar seja respeitado. “O objetivo é aumentar o interesse pelo brincar
e pelas atividades de lazer nas comunidades, apoiando as famílias na
criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento e educação de suas
crianças”, diz Boufleur. Entre as 45.442 comunidades acompanhadas pela
Pastoral da Criança, 8.909 delas já contam com pessoas capacitadas para
realizar a ação.
Para Renata Meirelles, criadora, coordenadora e educadora responsável pelo projeto Território do Brincar, desenvolvido em parceria com o Instituto Alana,
o brincar é a linguagem da criança. “A relação com a brincadeira é de
comunicação, de expressão. Quanto mais você tem esse canal aberto para o
brincar livre, espontâneo, autônomo, mais você busca sua expressão e
encontra seus potenciais, sua forma de linguagem”, diz.
O
projeto Território do Brincar é fruto de mais de dez anos de pesquisa
desenvolvido por Meirelles sobre brinquedos e brincadeiras. De abril
deste ano até o início de 2014, a educadora e seu marido, o
documentarista David Reeks, devem percorrer diversas comunidades em
todas as regiões do Brasil para dar voz às crianças e apresentar a cultura humana brasileira segundo o olhar desses meninos e meninas.
Segundo Meirelles, o mais interessante do projeto tem sido perceber
que, apesar da realidade vivida pelas comunidades serem muito
diferentes, existem semelhanças, principalmente na cultura da infância.
“Vemos brincadeira e brinquedos parecidos nessas comunidades”, conta.
Até agora os dois já
visitaram a comunidade de pomeranos em Alto Santa Maria, no Espírito
Santo, e de afrodescendentes em Acupe, na Bahia. A próxima parada será
uma comunidade indígena no Xingu.
Falta de espaço e tempo
Espaços públicos para que as crianças exerçam um brincar livre são cada vez mais escassos. Devido aos altos índices de violência, principalmente nos grandes centros urbanos, as ruas e as praças já não são mais locais seguros para meninos e meninas trocarem experiências e compartilharem momentos de diversão juntos. Esses encontros, quando acontecem, são sempre localizados dentro de instituições, como a escola, e supervisionados e coordenados por um adulto, que diz às crianças do que brincar, quando e como.
Espaços públicos para que as crianças exerçam um brincar livre são cada vez mais escassos. Devido aos altos índices de violência, principalmente nos grandes centros urbanos, as ruas e as praças já não são mais locais seguros para meninos e meninas trocarem experiências e compartilharem momentos de diversão juntos. Esses encontros, quando acontecem, são sempre localizados dentro de instituições, como a escola, e supervisionados e coordenados por um adulto, que diz às crianças do que brincar, quando e como.
Para Renata Meirelles, a diminuição desses espaços onde o brincar acontece livremente pode gerar adultos menos autônomos. “As crianças nessas condições estão recebendo as coisas muito prontas, sempre há alguém dando regras, dizendo como fazer. Com isso elas vão crescendo sem saber do que gostam e, para mim, isso é grave, porque mais tarde essas crianças vão se transformar em adultos muito susceptíveis ao desejo do outro, vulneráveis ao que os outros dizem para fazer em relação à política, ao consumo etc.”, comenta.
Além
da falta de espaços, há também a escassez de tempo para o brincar, que é
sempre deixado para depois em favor de afazeres diários e instrutivos
marcados pelos pais. Para Cleide Vitor Mussini Batista,
professora da UEL, muita vezes pais e sociedade adotam uma postura que
menospreza os interesses da infância, buscando disciplinar as crianças
para que, no futuro, tornem-se adultos bem sucedidos. Entretanto, para
ela, esse excesso de afazeres e disciplina pode gerar um adulto dócil,
submisso à autoridade e medroso.
“É
relevante que seja assegurado à criança a liberdade de brincar e dispor
do tempo, no cotidiano familiar e escolar, para o pleno desenvolvimento
de sua personalidade e de suas potencialidades. Libertar a criança é
reconhecer o direito de, na medida do possível, dar-lhe a chance de
governar a si própria e de ser ela própria. Em outras palavras,
libertá-las é não abafar suas almas e tirar a oportunidade de serem elas
mesmas”, diz Batista.
O que diz o ECA?
Art.
15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à
dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como
sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição
e nas leis.
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
|
Sugestão de abordagem para jornalistas:
-
A falta de espaços onde a criança possa brincar de forma livre pode
impedir o pleno desenvolvimento físico, emocional e social de meninos e
meninas. Pode gerar uma boa pauta a análise de como se encontram os
espaços que tradicionalmente deveriam ser destinados ao lazer das
crianças em seu município. Estão bem conservados? São seguros? Outra
abordagem possível seria a análise dos investimentos feitos nessa área e
do que está previsto no Orçamento Público.
Sugestão de fontes para jornalistas:
- Núcleo de Estudos e Pesquisas do Brincar, Infância e Diferentes Contextos – (UEL)
Cleide Vitor Mussini Batista, professora do Departamento de Educação
Clóvis Boufleur, gestor de relações institucionais
(41) 2105-0250 (falar com Shirley Galupo, assessora de comunicação)
- Território do Brincar
Renata Meirelles, criadora, coordenadora e educadora responsável pelo projeto
(11) 3030-9435 (falar com Milka Verissimo, assessora de imprensa)
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