quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Tratamento deve envolver vítimas, familiares e agressores para evitar reincidências


Para que não haja a reincidência de violência sexual contra crianças e adolescentes é preciso tratar a família da vítima e até o agressor. Segundo a psicóloga e psicodramatista Rosemary Peres Miyahara, coordenadora da área de formação do Centro de Referência às Vítimas de Violência do Instituto Sedes Sapientiae (CNRVV) em São Paulo, é preciso compreender a dinâmica que gera o abuso.

Co-autora dos livros O Fim do Silêncio na Violência Familiar (Ed. Agora) e O Fim da Omissão – A implantação de Pólos de Prevenção à Violência Doméstica (Fundação Abrinq), Miyahara explica a importâncias das diferentes terapias desenvolvidas hoje com vítimas, familiares e agressores:

Quais as técnicas que têm sido usadas para tratamento das vítimas?
Num primeiro momento o foco atual é tentar ver como a criança viveu a experiência de violência e ter o cuidado para não estigmatizar a vítima. Não é incomum ela ter danos psicológicos bem sérios. Ela necessita de espaços mais reservados para falar.  É preciso trabalhar um contexto mais amplo com toda a família, porque há casos em que todos abusavam da pessoa. No CNRVV, trabalhamos com grupos de crianças, de adolescentes e também o de responsáveis (a mãe ou avó).  Os profissionais se juntam para reunir os dados e o que aparece nos desenhos nas histórias e dramatizações.  A terapia começa a partir de uma avaliação de como a criança viveu aquela história e pode ser em grupo ou individual.  Aqui se procura respeitar a especialização dos terapeutas, que atuam com psicanálise, terapia sistêmica ou psicodramaturgia.

Como se sentem as mães que precisam levar os seus filhos ao tratamento?
Elas geralmente se perguntam se tiveram alguma culpa por não terem visto que os filhos estavam sendo abusados.


Vocês atendem agressores também no CNRVV e como são os tratamentos?
Atendemos, mas nosso foco é a infância e a juventude. Normalmente são indicados para outros serviços, quando a criança está sendo atendida aqui, porque a maior parte dos casos é permeada de ameaças. O tratamento de agressores ainda é um tema recente no Brasil e no mundo e geralmente é realizada a castração química ou prisão. Alguns serviços têm trabalhado com a terapia comportamental cognitiva, conscientizando o agressor do dano que causaram ao outro para, a partir daí, haver uma reformulação de comportamento. Hoje, pesquisas feitas com sentenciados mostram que eles não admitem que cometeram o abuso, todos negam.

Vocês já detectaram casos em que a mãe para se vingar do ex-marido faz a criança contar e acreditar na história de que foi abusada?
Estes casos são raríssimos, mas existem e são chamados de síndrome de alienação parental, mas conseguimos detectar com técnicas, como, por exemplo, verificando os titubeios e as contradições da história.

Há muitas notícias sobre pedofilia na imprensa. Esse comportamento está crescendo?
Precisamos prestar atenção em como a cultura está sendo difundida e não simplesmente falar que o número de pedófilos está crescendo. Nem todo abusador é pedófilo. O pedófilo tem um transtorno psiquiátrico que precisa de tratamento. O abusador sexual responde a algo que é muito difundido na nossa cultura: o desejo pelo corpo jovem e infantil. A erotização aparece, por exemplo, quando se faz um sutiã de bojo para meninas de 7 a 9 anos idade, para elas logo cedo imitarem as mães. Hoje, não se tem a diferenciação mais de roupas dos 8 até os 48 anos. Nossa cultura vai propagando isso e assim ficam diluídos os ritos de passagem e não se conseguem diferenciar as fases. O abusador é igual ao dependente de uma droga química se ele tem meios propícios para atuar, ele tem a chance de cometer o abuso.

Fonte: Portal ANDI

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